Estilos Parentais e Competências Sociais das Crianças

“Quem se nega a castigar o seu filho não o ama; quem o ama não hesita em discipliná-lo.”

(Provérbios 13:24)

 

Estilos Parentais e Competências Sociais das Crianças

 

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A família desempenha um papel importante na aquisição precoce de hábitos, competências e comportamentos. Neste contexto, @s adult@s e a Escola, são essenciais na educação das crianças. Com papéis diferentes, e necessariamente com responsabilidades distintas.

Especialmente no que diz respeito às crianças, mais do que nos adolescentes, as famílias de origem têm um papel determinante, na qualidade dos comportamentos, da gestão das emoções e na forma como elas se relacionam com as outra  pessoas. Seja com outras crianças, seja com outros adultos.

Estudos recentes, têm revelado a existência de quatro estilos parentais (autoritário, democrático permissivo e negligente). Estes estilos resultam da combinação de duas variáveis: os afectos e o controlo.

Neste contexto, os estilos parentais podem ser definidos como os comportamentos dos adultos que servem de modelo às crianças em termos das suas escolhas quotidianas, na tomada de decisão, na resolução de conflitos, na gestão das expectativas e no cumprimento de regras.

O estilo democrático é caracterizado por demonstrações abertas de afeto parental, dando explicações, expressando preocupação com as necessidades dos filhos, promovendo comportamentos desejáveis, justificando repreensões e comunicando abertamente. Estas famílias pautam-se pela vivência de um ambiente democrático e calor emocional.

Como resultado, as crianças tendem a desenvolver boas habilidades sociais, autocontrolo, iniciativa, motivação, autoestima, autoconceito realista e geralmente são felizes, espontâneas, confiáveis, comprometidas (altruísmo, solidariedade), sociáveis, tanto dentro, como fora do agregado familiar, sendo propensas a alcançar os seus objetivos e com menor probabilidade de causar conflitos entre pais e filhos.

O estilo autoritário é caracterizado por regras detalhadas e rígidas, priorizando a punição sobre o elogio, culpando as crianças pelos erros, com uma comunicação fechada e unidirecional (sem diálogo), pautado por uma afirmação frequente da autoridade dos pais e um ambiente autocrático.

Como resultado, as crianças têm pouca autonomia e autoconfiança, habilidades sociais pobres, baixa criatividade, são propensas à agressividade e impulsividade e tendem a adotar padrões morais heterónomos (evitação de punição) e são menos alegres e espontâneas.

O estilo permissivo é caracterizado pela falta de preocupação com o comportamento negativo ou positivo das crianças, com uma maior passividade por parte dos pais. O mau comportamento das crianças tende a ficar impune, todos os impulsos das crianças são tolerados e a autoridade é insuficientemente afirmada, não são impostas restrições e os desejos das crianças são facilmente concedidos.

Como resultado, as crianças tendem a desenvolver habilidades sociais precárias, baixa auto-estima, auto-identidade fraca, baixo autocontrolo, falta de estabilidade emocional, autoconceito negativo, autoconceito e auto-responsabilidade muito baixos, muito mais inseguras, com pouco respeito pelas regras e pelos outros e com maiores níveis de insucesso académico.

O estilo negligente é caracterizado por uma extrema indiferença emocional em relação às questões dos filhos, desistência dos pais pela responsabilidade, falta de motivação, comprometimento e envolvimento e imaturidade.

Como resultado, as crianças desenvolvem habilidades sociais pobres, impulsividade e agressividade e tendem a ter falta de motivação, comprometimento e maturidade.

Os mais recentes estudos sobre o impacto dos estilos de parentalidade no desenvolvimento emocional e nas habilidades sociais das crianças, tem revelado que os estilos parentais democráticos estão mais relacionados com a vivência de afetos positivos (comparativamente a todos os outros estilos parentais), e isso concorda com a ideia de que a criação consistente de regras leva as crianças a não perceber a autoridade parental como rígida e a cumprir as regras voluntariamente, resultando em níveis mais altos de autoconceito, autoestima e habilidades sociais.

Os estilos parentais permissivos, por outro lado, resultam em níveis mais altos de afetos negativos do que os outros estilos parentais. As crianças educadas sob um regime permissivo requerem níveis mais altos de apoio emocional.

Os resultados destes estudos têm demonstrado de forma consistente que os estilos parentais democráticos são adotados por uma percentagem semelhante de pais e mães. Já os estilos permissivos são mais frequentemente utlizados por mulheres e os estilos autoritários, mais frequentemente atribuídos aos homens.

Finalmente, os estilos parentais negligentes são um pouco mais comuns aos homens. Isso pode traduzir uma maior percentagem de homens com  problemas de comportamento, obrigando os pais a adotarem medidas disciplinares e aplicarem punições.

A Escola não poderá deixar de cumprir o seu papel de organização inclusiva, garantido a igualdade de direitos, aos seus alunos. Mas será sempre da exclusiva responsabilidade das famílias a equidade de oportunidades para os seus membros.

Serviço de Psicologia do Agrupamento de Escolas de Vouzela

 

Artigo Publicado no Jornal Notícias de Vouzela, 2023